O que tinha a dizer sobre 'Meu Amor', vencedora do Emmy internacional na categoria telenovela fi-lo aqui, mas para lá disto é sempre bom lembrar que esta vitória é também de José Eduardo Moniz, o homem que acreditou na ficção portuguesa e mais fez pelo género nos últimos dez anos e que escreveu sobre este assunto no 'Correio da Manhã'.
Há uma palavra fundamental no texto que o ex-director-geral da TVI escreve: amparo. É uma palavra que surge amiúde no vocabulário dos responsáveis das televisões, mas que nem sempre é entendida. Amparar um produto televisivo não é subsidiá-lo quando entra pelos olhos dentro que não funciona. É antever o seu êxito e identificar as suas potencialidades. Não se pode amparar aquilo em que não se acredita e penso que essa é a marca que Moniz deixa na TV nacional. Ao acreditar que era possível agarrar os espectadores com um género que conhecia grande concorrência - em quantidade e qualidade - mudou a indústria do audiovisual, tornou possível viver da representação, alavancou um certo género de imprensa, obrigando a de referência a prestar atenção ao fenómeno, abriu horizontes e fez novos (e bons) actores.
Esta é, realmente, uma boa notícia!
Mas o júri do Ídolos, com as suas críticas extraordinariamente positivas, ainda vai conseguir pôr a Carolina fora do concurso. E o Pedro Boucherie Mendes, sozinho, ainda vai conseguir levar o Neemias à vitória.
'Morangos com Açúcar' (TVI) é um viveiro de actores como o 'Curto Circuito' (SIC Radical) é um viveiro de apresentadores.
Eu adoro ler o que escrevem Nuno Azinheira e Joel Neto sobre TV no 'Diário de Notícias'. E discordo muitas vezes de ambos. Hoje, por exemplo.
O Joel Neto, tal como Nuno Azinheira há uns tempos, defendeu que o talk show '5 para a Meia Noite' podia bem passar para a RTP1. Na altura achei que era uma boa ideia. Que era uma medida capaz de arrastar mais espectadores para o canal 1, fazendo a ponte com os talk shows de Herman José e Bruno Nogueira. Até que uma pessoa que trabalha no programa me abriu os olhos: passando para a RTP1 perderia a aura de alternativo que é precisamente o que lhe dá graça. Tem toda a razão. Às vezes, quando pensamos nos programas a pergunta que devemos fazer é: qual é a sua essência? Vou tentar não me esquecer.
Mais de 50 anos depois da invenção da televisão, surpreende (ainda) a pouca atenção científica, a escassa reflexão feita em torno de um media com importância. O cinema presta-se a leituras psicanalíticas, presta-se a que se diga que é uma máquina e veículo de propaganda política, da televisão contentamo-nos em dizer que é alienante, como se isto explicasse tudo. O desprezo intelectual por um meio acessível a tanta gente é chocante. Pergunto-me: se fosse mais exclusivo seria mais interessante para a elite intelectual?